Vinte e oito bebês prematuros chegaram ao Egito em um comboio de ambulâncias de Gaza nesta segunda-feira (20), de acordo com um funcionário do governo egípcio, depois de cruzar a fronteira por Rafah. Quatro mães e seis enfermeiras acompanharam os bebês.
No domingo, 31 bebês foram transferidos do Hospital Al-Shifa, no norte de Gaza, para o Emirati Hospital na cidade de Rafah, no sul do país, em uma ação planejada pelo Crescente Vermelho Palestino (PCRS, na sigla em inglês) e várias outras organizações.
Dois dos bebês ficaram na unidade de UTI do Emirati Hospital – um deles em boa saúde – e um terceiro bebê não foi transferido para o Egito, já que seus pais estão atualmente no norte de Gaza. Os outros 28 serão tratados no Hospital Al-Arish, no Sinai, e em outro hospital, no Cairo.
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“Temos esperado por eles nos últimos dias. Fizemos todos os preparativos para receber os recém-nascidos com todo o equipamento médico necessário para isso”, disse um médico em Al-Arish, chamado Ahmad, à emissora estatal egípcia Al Qahera na segunda-feira (20), acrescentando que alguns dos bebês precisam de “medidas médicas mais avançadas.”
A mãe de um dos bebês prematuros transferidos para um hospital no Egito disse que era o “melhor lugar do mundo” para sua filha. Ela afirmou que depois de um “parto difícil” em 28 de setembro, sua filha havia sido colocada em uma incubadora em Al-Shifa.
“No dia 7 de outubro, eu deveria ir ver minha filha. Ela dependia de respiração artificial. Então eles nos pediram para sair de nossa casa, e eles bombardearam nossa casa. Eu fui para o Hospital Al-Shifa. Nunca nos ocorreu que o hospital seria alvo e que essas crianças teriam que passar pelo que passaram”, disse Lubna El-Seik.
Depois que Israel anunciou uma operação “precisa e direcionada” em Al-Shifa e os combates começaram no complexo hospitalar, El-Seik disse que a condição de sua filha se deteriorou. “Ela dependia apenas de oxigênio artificial”, disse ela.
Citando médicos no hospital de Rafah, a Organização Mundial de Saúde disse que os bebês tinham infecções graves e 11 estavam em “estado crítico”, devido à falta de suprimentos médicos em Al-Shifa.
O Unifec (Fundo das Nações Unidas para a Infância) alertou no domingo (19) que a condição dos bebês estava “se deteriorando rapidamente”. Afirmou ainda que a evacuação ocorreu em “condições extremamente perigosas” e seguiu a “morte trágica de vários outros bebês, e o colapso total de todos os serviços médicos em Al-Shifa.”
Al-Shifa, o maior hospital de Gaza, tornou-se um ponto crítico na guerra. Os militares israelenses alegam que a instalação está sendo usada pelo Hamas como escudo para suas operações e invadiram o hospital na última quarta-feira. O Hamas e os funcionários do hospital negaram as alegações de Israel.
Durante dias, bombardeios em sequência ocorreram perto do hospital deixando sem saída milhares de funcionários, pacientes e civis que se abrigavam no local, o que provocou protestos e relatos de que os os recém-nascidos lutavam para sobreviver.
A OMS descreveu Al-Shifa como uma “zona de morte” com corredores “cheios de resíduos médicos”, depois que uma equipe das Nações Unidas visitou o hospital por uma hora no sábado para avaliar a deterioração da situação humanitária.
As autoridades palestinas disseram que vários recém-nascidos morreram devido a quedas de energia e falta de suprimentos médicos; a equipe do hospital descreveu ter que mover bebês por incubadoras depois de ficar sem combustível e envolvê-los em papel alumínio para mantê-los aquecidos.
Sob pressão crescente para fornecer evidências para sua alegação de que o Hamas está usando Al-Shifa para fins militares, as Forças de Defesa de Israel (IDF) divulgaram no domingo vídeos e fotos que mostram combatentes do Hamas trazendo supostos reféns para Al-Shifa em 7 de outubro, quando o Hamas lançou seu ataque ao sul de Israel, matando mais de 1.200 pessoas e levando cerca de 240 pessoas para Gaza como reféns.
O porta-voz da IDF, contra-almirante Daniel Hagari, apresentou dois vídeos curtos, com várias imagens estáticas, que segundo ele mostram combatentes do Hamas movendo os reféns – um nepalês, um tailandês – pelo hospital.
A CNN não pôde verificar independentemente o conteúdo dos vídeos e das fotos.
O chefe da unidade de queimados do Al-Shifa, Dr. Ahmed Mokhallalati, acusou as forças israelenses de pressionar a equipe do hospital, questioná-los sobre o Hamas e restringir a circulação de pessoal após o ataque na semana passada.
“A pergunta comum (os funcionários continuam sendo perguntados): Você sabe alguma coisa sobre os grupos do Hamas? Você sabe alguma coisa sobre os túneis dentro do hospital?”, disse o médico.
No Egito, a expectativa era para que os pais dos recém-nascidos pudessem viajar em segurança com seus filhos, mas a OMS disse que poucos bebês estavam acompanhados por membros da família.
Autoridades de Gaza tinham “informações limitadas” e não conseguiram encontrar familiares próximos, disse a OMS.
Um pai, Ali Sbeiti, foi reunido com seu filho Anas, que nasceu três dias antes do início da guerra.
“Graças a Deus. Agora sentimos que nosso filho está seguro depois de não vê-lo por mais de duas semanas. Não sabíamos se ele estava vivo ou morto, especialmente quando as comunicações foram cortadas com os médicos”, disse Sbeiti à CNN.
A intensa luta entre Israel e o Hamas, e um apagão nas comunicações devido à falta de combustível, complicou os esforços de entrega de ajuda e tornou mais difícil para os palestinos chegarem aos serviços de socorro.
O diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom, disse no domingo que outras missões estão sendo planejadas para evacuar os pacientes e funcionários restantes de Al-Shifa, “enquanto se aguardam garantias de passagem segura pelas partes do conflito.”
* Com informações de Martin Goillandeau, Sharon Braithwaite, Eleni Giokos, Sophie Tanno, Hamdi Alkhshali, Oren Liebermann e Niamh Kennedy da CNN.
Este conteúdo foi criado originalmente em inglês.
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